segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Germana Bronzeado no Papo de Fotógrafo


A fotógrafa paraibana Germana Bronzeado foi a convidada da quarta edição de Papo de Fotógrafo, uma realização da Agência Ensaio APAC - Associação Paraibana de Arte e Cultura. Germana falou para aproximadamente 23 pessoas sobre sua carreira de mais de 30 anos, e apresentou parte de seu vasto trabalho de documentação do patrimônio histórico de João Pessoa.

Germana começou na profissão como fotojornalista tendo sido na época uma das primeiras mulheres na Paraíba a trabalhar como fotógrafa na imprensa escrita. Atualmente é assessora de imprensa do Tribunal de Justiça, e é fotógrafa da Oficina Escola onde desenvolve um trabalho de grande relevância de documentação fotográfica das atividades de restauração do patrimônio histórico e, sobretudo, de recuperação do patrimônio humano, uma vez que a Oficina Escola capacita jovens em situação de risco para executar trabalhos de restauração altamente especializados. Abordarei a Oficina Escola num outro post, mas desde já sugiro conhecerem o  por meio de seu site.

O grande ganho do Papo de Fotógrafo é a reflexão a respeito da produção fotográfica paraibana que o espaço vem proporcionando. No encontro com Germana foram abordados pontos como a transição forçada do filme para o digital e da quase impossibilidade de se fazer laboratório preto-e-branco na Paraíba - diga-se de passagem, essa realidade vale quase que todo o país - devido ao alto custo e à escassez de suprimentos. Também foram discutidos assuntos como as dificuldades de organização de arquivo das fotografias digitais, da dificuldade de digitalização de um grande acervo de negativos e cromos, e da manutenção destes numa cidade onde a maresia é cruel.

O ponto alto do encontro foi, a meu ver, a afirmação de Germana sobre seus objetivos com a fotografia e de suas opções estéticas. A objetividade e o aspecto descritivo da forma de suas imagens da arquitetura da cidade caracterizam quase que o todo de sua obra de documentação. Quando lhe foi sugerido no decorrer do bate-papo de fotografar postes e fios que enfeiam o paisagismo de João Pessoa, e daí fazer uma fazer uma obra artística indagando a poluição visual, a fotógrafa respondeu que seu objetivo era fotografar a arquitetura e o paisagismo tal qual eles se apresentam, e não outra coisa.

A descrição também pode ser percebida na forma das fotografias que ela faz das atividades dos trabalhadores nas obras de restauração, com a diferença que o tema é dimensão humana no restauro do patrimônio histórico, ou como me disse Germana numa conversa a parte, são fotografias sobre a restauração do ser humano. Duas dessas fotografias, se colocadas lado-a-lado, revelam a semelhança de vários aspectos do caráter formal: pontos-de-vista semelhantes, uso de grande angular, valorização da iluminação local etc. O título de ambas é a descrição daquilo que é o objeto fotografado: Púlpito e Remoção de pintura sobre a cantaria do altar colateral esquerdo. A semelhança mais impressionante, no entanto, é que os trabalhadores estão representados da mesma forma que o púlpito, como uma escultura que pertence ao imóvel: as poses parecem ter sido posadas, os movimentos parecem simulados, são estáticos, ninguém olha para a câmera. No entanto há vida nesta fotografia, a compenetração no trabalho minucioso dos operários coincide com a concentração e interação da fotógrafa com o assunto. È nesses aspectos que reside a força do trabalho de Germana Bronzeado.




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